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Precisamos falar sobre racismo ambiental: B2 level resource in Brazilian Portuguese

  • Writer: oibpwebsite
    oibpwebsite
  • Jul 6, 2024
  • 7 min read

Updated: Aug 14, 2024






Atividade de compreensão auditiva

  1. Analise se as frases são verdadeiras ou falsas: a) O termo "racismo ambiental" foi criado por Martin Luther King. b) Amanda conta que recebeu apoio financeiro através do LinkedIn para participar da COP. c) Amanda percebeu que as pessoas que mais se destacavam no debate climático eram majoritariamente pessoas negras. d) A avó de Amanda, Jandira, migrou de Minas Gerais para Iguarapava com apenas oito anos de idade. e) Amanda Costa é ativista climática.

2. Complete as frases abaixo com as palavras fornecidas. Cada palavra deve ser usada uma vez.

Palavras: rolê, lixão, quebrada, se engajar


  1. A falta de saneamento básico é um grande desafio na _____.

  2. Precisamos limpar o ____ a céu aberto que está prejudicando nossa comunidade.

  3. Eles não entendem nada desse _______ de sustentabilidade.

  4. Ela quer ____ participando de um movimento social.


Transcrição

Fala, galera, beleza? Meu nome é Amanda Costa. Sou mulher preta, internacionalista e ativista. Sou filha do Ancelmo e da Gisleide, irmã da Taís e neta da vó Jandira que foi muito corajosa ao migrar de Iguarapava até Minas Gerais, com apenas oito anos de idade, para trabalhar. Minha avozinha me ensinou a ser guerreira, a amar a natureza e a viver pela fé. E foi em Jesus Cristo que eu encontrei a minha essência ativista. Quando eu declaro para as pessoas que eu sou ativista climática, com foco em racismo ambiental, geralmente a galera me olha com essa expressão: Uau! Mas não fazem ideia do que eu estou falando ou do que eu faço. Levanta a mão se você já escutou o termo racismo ambiental. O tema racismo ambiental foi criado em 1981 pelo Dr. Benjamin Franklin Chavis Jr. Ele era um dos parças do Martin Luther King, e naquele momento ele estava investigando como algumas injustiças ambientais estavam afetando principalmente a galera preta do subúrbio dos Estados Unidos. E quanto mais eu investigava o tema, mais eu percebia que estava falando da minha realidade, a realidade da periferia. Para para pensar comigo: por que que na quebrada a gente tem tanta dificuldade de mobilidade? Trânsito intenso, metrô não chega na quebrada, o busão está sempre lotado, ou então lixões a céu aberto, falta de verde urbano, aquele córrego fedorento que o esgoto cai direto e não é encanado. Ou então grupos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pessoas pretas, periféricas e faveladas, sem direito à moradia e a terra. E quanto mais investigava as questões dos territórios brasileiros, mais eu percebia que estão diretamente conectados às questões climáticas. Me diga você, homem, mulher, paulistano, carioca, cidadão do nosso Brasil: Por que será que a gente tem tão pouca diversidade no debate climático? Mas em 2017 eu recebi uma bolsa para representar a juventude brasileira na COP23, por conta do meu voluntariado e das pesquisas que estava fazendo no tema. Naquele momento eu pensei: “Minha oportunidade!” Porque, na minha cabeça, eu tinha que ser muito experiente do tipo: pós doutoranda Amanda Costa. Eu tinha que ser riquíssima. Aliás, quem da quebrada pode viajar internacionalmente? E eu que teria que usar terninho. Mas eu me vi no extremo oposto, me vi super jovem, no início da minha carreira acadêmica, fazer iniciação científica, nada rica e assim ó: de calça legging e tênis. E participar da COP foi muito impactante porque eu entendi algumas dinâmicas daquele lugar. E eu percebi que as pessoas que mais se destacavam no debate climático eram pessoas brancas, com mestrado internacional, e que ocupam um determinado nível de privilégio na sociedade. E a galera preta, da quebrada, estava em outro lugar pensando em outras coisas, tipo: “Meu, será que hoje vai chover? Se chover a gente tem que agilizar o rolê, para levantar os móveis e não perder muita coisa. E será que não vai chover? Meu Deus, racionamento. Vamos comprar uns baldes para já se preparar para a água que não virá.” Pensar em questões climáticas é pensar nos desafios do território. E quando eu estava lá na COP23, eu olhava para aqueles rostos e eu me perguntava: “Cadê as pessoas que se parecem comigo, nesse lugar? Cadê a galera preta que tem a mesma cor de pele que a minha? A mesma textura de cabelo ou os mesmos traços pretos?” Mas naquele momento, eu não percebia que aquilo era racismo. Eu voltei para o Brasil com meu coração borbulhando, porque eu estava disposta a me tornar a líder que eu tanto ansiava ver na COP. Entrei no Engajamundo, uma organização de jovens ativistas que trabalha com formação política, pressão em tomadores de decisão e projetos socioambientais. E passei a coordenar, a nível nacional, jovens de todas as regiões brasileiras que estavam interessados nessa questão de sustentabilidade. E com essa experiência, eu pude ter perspectivas de “Brasis” a partir dos olhares das juventudes. Isso mesmo, com “s” porque somos diversos. Me diga você: Será que a gente está tendo essa diversidade no debate climático? Queridos, queridas, querides uma coisa precisa ficar bem escura: vivemos num país que é extremamente racista, machista e desigual. E pensar em questões climáticas é entender quem vão ser os principais impactados. O Brasil foi construído em cima de um modelo capitalista que explora as populações mais vulneráveis. Ou seja, a galera preta, da periferia, os indígenas, os quilombolas e os ribeirinhos. O que mais me incomodou na COP foi ver que aqueles tomadores de decisão estavam falando da minha realidade, ou seja, como as questões climáticas vão impactar as pessoas da periferia, os grupos vulneráveis. Mas eles não fazem parte desse mundo. E pensar em soluções diversas é pensar em soluções que vão contemplar a todos e o que nem sempre interessa para todo mundo. Mas pensando em tudo isso, em 2019 eu falei: “Chega! Estou cansada de escutar que meio ambiente é apenas assunto de gente branca, rica e privilegiada. Cansei disso. Quero me tornar parte desse rolê, quero ser parte dessa solução.“ E aí, em 2019, eu fundei o Perifa Sustentável, um projeto para falar de questões de sustentabilidade na periferia. E em 2021, o Perifa Sustentável se tornou um instituto e levamos quatro jovens mulheres negras para a COP26, dessa vez na Escócia, não apenas como observadoras, mas como sujeitos políticos que estavam trazendo soluções decolonizadas, antirracistas e plurais para a mesa de negociação. Vitória Pinheiro, Ellen Monielle, Mahryan Sampaio e eu, Amanda Costa estávamos lá para representar parte da juventude brasileira. E sabem o que é mais potente? Fizemos parte da coalizão negra por direitos, que pela primeira vez foi colocada como um importante sujeito de negociação climática, participando de painéis, pressionando tomadores de decisão e liderando a marcha pelo clima. Isso é lindo né, gente? Mas não é suficiente. A COP me mostrou que ela apenas reflete o Congresso Nacional brasileiro. Um espaço onde homens brancos estão defendendo uma velha política e essa galera está acabando com meu futuro está acabando com o futuro da juventude. Se a gente quer ter novas soluções a gente precisa trazer novos sujeitos políticos, criando uma política pautada em gênero, em raça, em classe e em orientação sexual sim. Eu sonho com o dia em que racismo ambiental vai ser algo presente apenas nos livros de história. Mas enquanto esse dia não chega, eu estou comprometida sim a cocriar a política que eu quero viver. Uma política do bem viver, da preservação, da circularidade, do afeto e do amor. Talvez nesse momento você esteja me olhando e falando: “Amanda, quero participar dessa política, o que eu posso fazer para me engajar nesse rolê?” Vou te dar três dicas do que você pode fazer para iniciar esse movimento juntinho comigo. Primeira dica: ampliando os espaços de participação. Segunda dica: apoiando os jovens ativistas que estão engajados na luta climática. E terceira dica: tenha uma participação democrática ativa. Calma, vou explicar cada uma delas. Primeira, ampliando os espaços de participação. Estar aqui nesse lugar, ter um microfone, é legal, é potente, mas não é suficiente. A galera preta, a galera jovem, a galera da periferia também precisa estar nos espaços de estratégia com a caneta na mão, com acesso a recursos, a poder, a conexões, causando uma transformação de dentro para fora, o nosso mundo não aguenta mais essas grandes empresas que dão recursos apenas para os seus institutos. Porque essas soluções são soluções colonizadas. E eu estou vendo os meus amigos ocupando cargos de Conselho em empresas, mas ainda é pouco. Precisa de mais. Segunda dica, apoiando os jovens ativistas engajados na luta climática. Gente vou confessar um segredo pra vocês. Faltando um mês pra ir para a COP, eu estava desesperada. Não tinha nada de grana, não tinha recursos. E aí eu decidi fazer um pedido de apoio na minha rede social, o LinkedIn, e eu recebi tanto apoio, tanto apoio, tanto apoio, R$ 5, R$ 10, R$ 20, R$ 100, R$ 500, R$ 1 mil, R$ 4 mil. E naquele momento eu falei: “Meu Deus, o que está acontecendo?” E eu me sentia muito grata, muito feliz, mas muito desconfortável, muito incomodada e eu não conseguia decifrar o que estava no meu coração. E aí numa conversa com minha mentora Egnalda Côrtes ela falou: “Amanda Costa, minha querida, você é uma mulher preta, você está acostumada a trabalhar muito e a ser pouco reconhecida. Mas ao invés de ficar se questionando: ’Ai eu mereço estar aqui? Será que eu tenho essa capacidade?′ Troca a pergunta e começa a se questionar: ’O que eu posso fazer com o lugar de influência e visibilidade que eu tenho hoje?′ Será que não é o momento de apoiar outras jovens lideranças negras?” E foi assim que eu trouxe as meninas pra COP. E você pode apoiar jovens negros que estão em seus territórios, em seus contextos, levantando a voz em prol da justiça climática, porque é sobre a gente. É sobre o nosso corpo. E a terceira dica é: tenha uma participação democrática ativa. Se engaje politicamente. Não estou falando pra você entrar pra um partido, mas se você quiser, tudo bem. Estou falando pra você encontrar a sua causa e se engajar com a sua causa. Causas de gênero, raça, classe, causa LGBT, causem problemas. Porque o status quo já está nos matando e não dá mais para a gente se contentar com o mínimo. A política está em tudo, está no transporte público, está na segurança pública, está na nossa alimentação, está no nosso lazer, na nossa cultura. E se a gente quer criar novos futuros, a gente precisa se comprometer a entender que a política climática é uma política de saúde pública, é uma política de segurança pública, é uma política de moradia. E talvez nesse momento você esteja pensando assim: “Amanda, o que eu faço?” Gente, estou aqui com vocês hoje, mas a política não está apenas aqui na ONU, na ONU Habitat, na COP. A política está no transporte, no voto, em cada ação que a gente faz no nosso dia a dia, e no dia de hoje eu quero que você pare para refletir: “Como que a gente está contribuindo para essa transformação?” Porque não dá mais para viver como se nada estivesse acontecendo. A galera preta está morrendo. Enquanto um ativista ambiental é morto a cada dois dias, um jovem negro é morto a cada 23 minutos no Brasil. Vamos nos comprometer a fazer a nossa parte, porque o futuro é jovem, o futuro é preto, o futuro é periférico. Se engaje nesse movimento comigo e vamos transformar o Brasil.

 
 
 

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